a salto

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segunda-feira, maio 26, 2008

Caçada em 1948

Um acontecimento social


"Matadores de gamos 'julgam' o que acertou num javali

FERNANDO MADAÍL

Governante era acusado de ser responsável moral pela morte do general Marques Godinho

Escrever nos despachos a tinta verde parece ter sido uma das particularidades de Santos Costa durante os seus 22 anos consecutivos como governante, passando de subsecretário a ministro da Guerra e, depois, a ministro da Defesa Nacional. Em Janeiro de 1948, foi acusado pela viúva e pelo filho do general Marques Godinho, representados pelo jovem advogado Adriano Moreira, de ser o responsável pela morte daquele oficial, preso sob a acusação de estar a conspirar contra Salazar (no golpe falhado que ficou conhecido como "Abrilada"), e que morrera, de ataque cardíaco, a 27 de Dezembro - a PIDE, obviamente, engavetou parentes e causídico.

Não se estranha, pois, que - num país onde, a acreditar nas notícias, tudo parecia tranquilo - o DN de 15 de Fevereiro de 1948 chamasse à capa "a caçada aos gamos oferecida pelos ministros da Guerra e da Economia a destacadas individualidades estrangeiras e portuguesas". "O sr. tenente-coronel [chegaria a general] Santos Costa, ministro da Guerra, ofereceu ontem na Tapada de Mafra, com a colaboração do sr. eng. Daniel Vieira Barbosa, ministro da Economia, e em retribuição de atenções com que tem sido distinguido em vários coutos de caça portugueses e espanhóis, uma caçada aos gamos, a qual constituiu um notável acontecimento, tanto pela categoria social dos caçadores e restantes convidados, como também pelo elevado número de peças abatidas."

"Essa caçada, que foi superiormente organizada e dirigida pelo director do Depósito de Remonta, sr. major Manuel Salvação, realizou-se no Vale da Fornia, onde os caçadores, em número de cinquenta, se distribuíram por vinte e oito 'portas'. Os batedores partiram do Alto do Valerio, levantando bastantes peças de caça, das quais foram abatidas dez gamos, um veado e um javali.

"Percebe-se porquê: o gamo, cujo nome em latim é Cervus dama, é mais sociável com o bicho homem que o seu parente veado, também conhecido por Cervus elaphus, que é muito mais esquivo. E o javali, que no idioma de Virgílio e de César se chama Sus scrofa, tem o mau humor à vista nos caninos que se chamam "navalhas" e "amoladeiras".

Regressemos à notícia de 1948. "Entre a assistência contavam-se" - e segue-se uma lista de ministros, adidos das embaixadas espanhola, americana e inglesa, generais e coronéis, marqueses e condes, doutores e engenheiros, numa espécie de página de lista telefónica, conforme as regras jornalísticas da época, de respeitinho às hierarquias e medo do lápis azul da censura. E, no meio do rol, sem qualquer especial relevo, surgia o então brigadeiro Craveiro Lopes, que, daí a três anos, seria Presidente da República.

Mesmo na linguagem metafórica da época, ninguém se atreveria a fazer qualquer paralelo entre aquelas figuras e a fauna da tapada, onde há lobos e raposas, bufos-reais e bufos-pequenos, sacarrabos e salamandras, corvos e cucos, fuinhas e galinholas, pica-pau-malhado-grande e pica-pau-malhado-pequeno, lagartixas ibéricas e víboras-cornudas.

"Antes da debandada procedeu-se ao 'julgamento' do sr. D. Nicolau Franco [embaixador de Espanha], por - segundo a participação apresentada pelo director da caçada - ter abatido com tiro certeiro o único javali da tarde. O 'tribunal' constituiu-se sob a presidência do sr. engenheiro Cancela de Abreu [ministro do Interior], estando a acusação a cargo do sr. general [Ricardo] Rada [figura célebre na guerra civil espanhola, então capitão-general de Andaluzia] e actuando como defensor o sr. prof. dr. Mário de Figueiredo [vulto maior do regime, nesta altura apenas deputado]. O 'réu' confessou o crime com toda a sinceridade, pelo que, depois de inquiridas as numerosas testemunhas e de escutados os discursos da acusação e da defesa, o 'júri', constituído pelos srs. general Garcia Valiño [um dos mais influentes militares franquistas], engenheiro Daniel Vieira Barbosa [o ministro, que tomara posse em Fevereiro do ano anterior, seria substituído, em Outubro, por Castro Fernandes] e coronel Gomes de Araújo [ministro das Comunicações], se pronunciou pela 'absolvição'.

'Nos "tribunais" do regime seria muito mais difícil aos grevistas da construção naval e das searas alentejanas ou aos estudantes da Faculdade de Medicina de Lisboa, recentemente presos, serem assim ilibados."

in DN, 16-2-2008

quinta-feira, maio 01, 2008

Época venatória

2008-2009



Portaria n.º 345-A/2008, D.R. n.º 84, Série I, Suplemento de 2008-04-30

Ministério da Agricultura, do Desenvolvimento Rural e das Pescas

Determina para a época venatória de 2008-2009 as espécies cinegéticas que é permitido caçar, bem como fixa os respectivos limites diários de abate, períodos de caça, processos e outros condicionamentos venatórios